Trajetórias de estudantes cegos e as práticas escolares inclusivas

Abstract

Resumo: A presença de estudantes com deficiência visual nos espaços escolares é o resultado do processo de inclusão deflagrado no final do século XX e início do século XXI. A possibilidade de acesso desses estudantes ao Ensino Superior fez surgir a necessidade de uma reflexão acerca dos elementos facilitadores ou dos entraves que marcam seu percurso escolar, considerando as diferentes modalidades de acessibilidade física, comunicacional e atitudinal. São sujeitos desta pesquisa seis estudantes cegos que ingressaram no Ensino Superior em cursos de graduação ou de pós-graduação em universidades localizadas em três diferentes municípios do vale do Paraíba paulista, nas duas últimas décadas. Objetivou-se investigar a trajetória desses estudantes cegos que vivenciaram na prática diversas faces e situações do processo de inclusão. Especificamente, houve o intuito de conhecer o percurso histórico da escolarização das pessoas cegas e os recursos facilitadores de seu acesso ao conhecimento, e de compreender o que consideram como entraves ou como conquistas ao seu processo de formação. Além disso, procurou-se analisar quais são suas percepções acerca da sua escolarização até o Ensino Superior. A pesquisa, de natureza qualitativa, teve como instrumento de coleta de dados a entrevista de história oral, realizada individualmente, observando as percepções dos estudantes cegos a partir das narrativas. As entrevistas foram transcritas e analisadas por meio da Análise de Conteúdo. Considerou-se o que os sujeitos falaram, o contexto vivido por eles e o aporte teórico, para contextualizar as influências dos recursos utilizados, apoios recebidos, as formas de registro para a avaliação e a transição para os níveis mais elevados de ensino. Como resultado, verificou-se que a trajetória desses estudantes apresenta elementos facilitadores e dificultadores quanto à aprendizagem escolar, relacionados aos materiais usados pelos professores e pelas escolas, à postura do professor durante as aulas, à existência ou não de algum acompanhante para o aluno, aos mecanismos de avaliação, à forma de a Instituição de Ensino compreender o trabalho com a diversidade. A maioria dos sujeitos afirmou que percebe pouca mudança nas formas de gestão de sala de aula, considerando a inclusão, em comparação a todo o seu percurso escolar. Apontam como possibilidades de avanço uma postura mais ativa do docente em compreender a diversidade e de conhecer as peculiaridades de cada aluno, por meio do diálogo e da abertura ao novo.

Abstract: The presence of students with visual impairment in school spaces is the result of the inclusion process that was initiated at the end of the 20th century and beginning of the 21st century. The possibility of access of these students to Higher Education has raised the need for a reflection on the facilitating elements or obstacles that mark their school course, considering the different modalities of physical, communicational and attitudinal accessibility. Six blind students enrolled in Higher Education in undergraduate or postgraduate courses in universities located in three different municipalities of the Paraíba Valley of São Paulo in the last two decades are the subjects of this study. The objective was to investigate the trajectory of these blind students who experienced in practice several faces and situations of the inclusion process. Specifically, it was intended to know the historical course of schooling of blind people and the resources facilitating their access to knowledge, and to understand what they consider as obstacles or as achievements to their training process. In addition, we sought to analyze what are their perceptions about their schooling up to Higher Education. The research, of a qualitative nature, had as an instrument of data collection the oral history interview, carried out individually, observing the perceptions of the blind students from the narratives. The interviews were transcribed and analyzed through Content Analysis. It was considered what the subjects talked about, the context lived by them and the theoretical contribution, to contextualize the influences of the resources used, supports received, the forms of registration for the evaluation and the transition to the higher levels of education. As a result, it was verified that the trajectory of these students presents facilitating and difficult elements regarding the school learning, related to the materials used by the teachers and the schools, the teacher's position during the classes, the existence or not of some companion for the student, evaluation mechanisms, the way in which the Teaching Institution understands working with diversity. Most of the subjects stated that they perceive little change in the forms of classroom management, considering inclusion, in comparison to their entire school course. They point out as possibilities of advancement a more active attitude of the teacher to understand the diversity and to know the peculiarities of each student, through dialogue and openness to the new.